Introdução
A jornada do Companheiro Maçom é um período de intensa dedicação ao estudo e ao aprimoramento. Mais do que apenas absorver novos conhecimentos, o Obreiro nesse Grau é instigado a adotar uma postura crítica e constante de busca pela verdade. As Recomendações ao Companheiro Maçom servem como um guia essencial para navegar por essa fase, garantindo que o aprendizado se traduza em uma vida maçônica plena e útil à sociedade.
Além do Dogma: O Ecletismo Maçônico
Um dos pontos cruciais entre as Recomendações ao Companheiro Maçom é a necessidade de o Maçom compreender as ideias considerando suas respectivas épocas e de ser receptivo às “ideias-mestras” do passado até a atualidade. Isso constitui o que é conhecido como “ecletismo maçônico” – a metodologia de reunir teses de diversos sistemas, ora justapondo-as, ora unindo-as em uma “unidade superior nova e criadora”. Essa abordagem faz da Maçonaria uma “Instituição descomprometida de quaisquer doutrinas, crenças e dogmas”, pautada por uma ética evolucinista.
A Maçonaria não deve ser restrita a ser considerada uma “herdeira conservadora da velha magia e do ocultismo arcaico”, pois isso a condenaria ao desaparecimento. Em uma época de intenso progresso científico, pregar uma filosofia baseada apenas em “cinco (5) princípios” arcaicos seria um anacronismo. Muitos tratadistas maçônicos do passado, por puro desconhecimento, propalaram especulações e mistérios que hoje podem ser desmistificados por um simples exame dos clássicos gregos e romanos.
É fundamental que o Companheiro não caia na armadilha do “arcaismo”, ou seja, a crença cega em coisas antigas sem uma análise crítica. A falta de divulgação de conhecimentos e descobertas no passado contribuiu para “conservar” erros, prestigiando exploradores da credulidade pública.
O Desafio da Cosmogonia e a Busca por “Nous”
As Recomendações ao Companheiro Maçom incluem a compreensão das origens do universo. A Cosmogonia, uma ciência próxima da Astronomia, que trata da origem e evolução do Universo por meio de lendas mitológicas, parte de construções fantasiosas. Por exemplo, para os órficos, o primeiro ser Divino era a Noite, e Eros era o unificador. Heráclito de Éfeso, o “pensador das contradições”, afirmava que o Uno Eterno era o fogo. Xenófanes, por sua vez, acreditava que todas as coisas derivavam da Terra.
É crucial que o Companheiro perceba que nem mesmo os gregos concordavam com a ideia de “cinco (5) elementos”, transmitindo suas ideias de pensamento e inteligência por uma única palavra: “Nous”. Isso nos leva a crer que, por vezes, os hermetistas da Idade Média eram “copistas de certas transcrições tidas até como deturpadas”, desprovidas de qualquer indicação da verdadeira origem.
Os Princípios do Companheiro: Um Roteiro para a Ação
As Recomendações ao Companheiro Maçom não mantêm uma uniformidade rígida, mas uma síntese de muitos Rituais e Tratados aponta para “cinco (5) princípios” fundamentais para o ser humano:
- Conhece-te a ti mesmo, e aperfeiçoa-te: Atribuída a Sócrates e Heráclito, essa regra maçônica corresponde à edificação do Templo pessoal interior, ou seja, a “prover o polimento da Pedra Bruta, para atingir a Pedra Cúbica”.
- Emprega tuas faculdades para criar, inventar e renovar, em benefício dos semelhantes e da Humanidade: A sabedoria inventa, mas os Homens descobrem verdades na Suprema Obra do G∴A∴D∴U∴. Criar é descobrir, aproveitar, aperfeiçoar e renovar, tanto material quanto moral e intelectualmente.
- Trabalha: O G∴A∴D∴U∴ também trabalhou, e a Maçonaria não admite parasitismo. “Quem não age, não vive”, e o Maçom deve trabalhar à exaustão. A espada concedida ao Maçom contraria antigos costumes da nobreza e honra os que trabalham e usam o Avental.
- Realiza e completa tua obra: O número Um (1) não se manifesta sozinho; precisa passar pelo número Dois (2), a contradição, e a luta que termina com a conciliação da verdade. A obra deve ir além do plano mental e se concretizar na realidade, como a Pedra Cúbica perfeita.
- Dá a obra aos semelhantes e à Humanidade, e receberás o duplo salário como pagamento do trabalho, e a satisfação íntima a alegrar o merecido descanso, e teu agradecimento ao G∴A∴D∴U∴: Este princípio representa o desprendimento do Companheiro para com os semelhantes, a “solidariedade fraternal e o amor ao próximo”.
Existem Rituais que substituem esses princípios por nomes de filósofos (Solon, Licurgo, Pitágoras, Sócrates e Jesus) ou por conceitos como Sentidos, Arte, Ciência, Humanidade, Trabalho, Fraternidade, Justiça e Igualdade.
A Dignificação da Mulher e o Caminho da Luz
Um ponto crucial nas Recomendações ao Companheiro Maçom é a clareza de que “Homem” na Maçonaria se refere ao ser humano de ambos os sexos, respeitando a Lei Natural e a Criação Divina. A Instituição propaga a “igualdade de Direitos” em ambos os sexos. A Mulher deve se dignificar pelo trabalho, conforme suas condições naturais e aptidões, e não ser vista como instrumento ou escrava. A Ordem busca dignificar a Mulher no lar ou no exercício de uma profissão digna.
Em última análise, as Recomendações ao Companheiro Maçom visam guiar o Obreiro em uma jornada de constante busca pela verdade, aperfeiçoamento pessoal e serviço desinteressado à Humanidade, sempre com sabedoria, força e beleza, e no mais puro espírito maçônico.
Referências Bibliográficas:
D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2019.

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