Introdução
No universo da Maçonaria, o conhecimento é uma ferramenta tão fundamental quanto o Malho e o Cinzel. A busca pela luz e pelo aprimoramento intelectual é uma constante na jornada do Obreiro, e essa busca é intensamente cultivada através do estudo das Sete Ciências Livres Maçonaria. Essas disciplinas clássicas, que serviram como base educacional por séculos, são pilares essenciais na formação do Maçom, capacitando-o a medir, pensar e agir com sabedoria.
O Manuscrito Harleiano de 1600 (ou 1650), um antigo documento maçônico, já mencionava explicitamente: “Há sete ciências livres: a Gramática, a Retórica, a Dialética, a Aritmética, a Geometria, Música e a Astronomia, fundadas todas numa só ciência: a Geometria, por meio da qual o homem aprende a medir e a pensar, o que se torna indispensável aos mercadores de todas as corporações”. Isso demonstra que, desde tempos remotos, a aquisição do conhecimento formal era valorizada como um caminho para a perfeição e a utilidade na sociedade.
Vamos explorar cada uma das Sete Ciências Livres Maçonaria e sua relevância para o Maçom:
1. Gramática: A Arte da Expressão e da Clareza
A Gramática é a base de toda a comunicação. Ela ensina a ler, falar e escrever corretamente, capacitando o Maçom a “escrever e interpretar Leis”, atuando como um veículo de educação e cultura. Dominar a Gramática é capacitar-se para ser um governante e estar apto a ensinar quem necessita. A clareza na expressão, tanto escrita quanto falada, é fundamental para a transmissão dos ensinamentos e para a coerência das ideias. No contexto maçônico, isso se traduz na capacidade de um Maçom apresentar sua tarefa ou trabalho, inicialmente com restrição, mas com o tempo, dominando a Gramática para se revelar um bom orador.
2. Retórica: A Arte da Persuasão e da Eloquência
Consequente da Gramática, a Retórica é a arte de usar a linguagem para impressionar, comunicando uma ideia de modo persuasivo, objetivo e claro. Ela demonstra a arte de discorrer sobre vários temas. Um bom discurso é conciso, evita monotonia e contém temas de interesse. O Maçom aprende que falar demais desagrada e faz perder a atenção dos ouvintes. A Retórica, portanto, não é sobre falar muito, mas sobre falar bem e de forma impactante.
3. Dialética (Lógica): A Arte e Ciência do Pensar Apropriadamente
A Lógica, ou Dialética, é considerada a arte que sustenta a Filosofia. Ela ensina o Companheiro a se tornar “reto, justo, leal, compreensivo e tolerante”. A lógica permite ao Maçom entender o que se passa na vida e agir ativamente no grupo em que convive, desenvolvendo leis de pensamento e regras para a exposição da verdade. Ela é um atributo inato ao Homem, mas precisa ser cultivada e desenvolvida através de uma mente treinada, tranquila, ponderada e reflexiva.
4. Aritmética: A Ciência Teórica dos Números
A Aritmética é a ciência que estuda os Números e é indispensável ao Homem, especialmente ao Companheiro Maçom, que a aplica no comércio e na construção. Ela é a base da “precisão dos cálculos” que garantem a realização do que é proposto. A Aritmética, diferentemente da Matemática (que possui um teor mais filosófico, místico e espiritual), estuda os números por seu valor intrínseco. O Maçom aprende que cada número tem seu valor e que, ao serem combinados, multiplicam-se infinitamente, extraindo lições substanciais e compreendendo a dimensão incomensurável do cosmos.
5. Geometria: A Arte e Ciência da Medida da Terra e do Cosmos
A Geometria é, talvez, a mais fundamental das Sete Ciências Livres Maçonaria. Ela é a base da medida de todas as coisas. Nenhum símbolo da Maçonaria dispensa a Geometria; ângulos, triângulos, polígonos, circunferências, pontos, retas e curvas são seus elementos componentes. O Companheiro deve ser instruído em Geometria para entender o G∴A∴D∴U∴ como o “Grande Geômetra”.
A Geometria não se limita a “medir a Terra”, mas busca compreender o “porquê” dessa atividade. Mapas antigos, com sua precisão e fidelidade, levam a questionar como os cartógrafos antigos conseguiram reproduzi-los. Na Maçonaria, a Geometria é a medida que deve ser dada aos “pensamentos, palavras e obras, de forma que se ajustem à razão e à justiça”. Ela provocou diálogos sobre “ordem, equilíbrio e harmonia” e, em Loja de Companheiro, ensina a polir o Homem e torná-lo digno de seu lugar no Edifício Social.
6. Música: A Arte e Ciência da Harmonia Universal
A Música é entendida como a arte de produzir e combinar sons de modo agradável, e seu aperfeiçoamento é essencial para “comover a alma do Companheiro”. A Natureza emite música através do silvo das folhagens, sons das cascatas e canto de pássaros. A Música é o “mais perfeito código universal de comunicação”, pois não necessita de tradução e pode ser decodificada no espírito do Homem, despertando sua harmonia universal.
Os sons manejados com maestria compõem melodias que os sábios denominam a “música das esferas” e o “cântico da corte celestial”. A Música expressa virtudes, surge por inspiração, amor, sofrimento ou alegria. No teto dos Templos Maçônicos, decorado com reproduções simbólicas de astros, a Música representa a harmonia que deve prevalecer na Loja.
7. Astronomia: A Ciência do Metafísico e do Celestial
A Astronomia, a “Arte do estudo dos astros”, não deve ser confundida com a Astrologia, que é especulação e não ciência. Ela mostra ao Companheiro a relatividade das Ciências Exatas, pois uma reta vista da Terra se torna uma curva quando observada de outro corpo celeste.
Maçonicamente, se o Templo que contempla a Loja é considerado uma “espécie de reprodução e retratação do Universo”, então a Astronomia passa a ser a Ciência que o estuda, e ao prover esse estudo, o Companheiro estará buscando “erguer os olhos da Humanidade ao infinito”. A Astronomia revela os mistérios que a envolvem, como a descoberta de novos planetas e estrelas.
A Maçonaria, embora não dedique estudo aprofundado a esses astros, os reproduz no teto de seus Templos para inspirar a reflexão sobre a vastidão do cosmos e a grandeza do Criador. As
Sete Ciências Livres Maçonaria são, portanto, um conjunto de ferramentas intelectuais que capacitam o Maçom a compreender o Universo em sua totalidade, a si mesmo e seu lugar na Grande Obra, conduzindo-o a uma vida de sabedoria, ordem e beleza.
Referências Bibliográficas:
CAMINO, Rizzardo da. Simbolismo do Primeiro Grau: Aprendiz. São Paulo: Livraria Maçônica Paulo Fuchs, 2001.

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