A Ritualística do Grau de Companheiro: Profundidade e Forma

Introdução

Na Maçonaria, tudo é símbolo. Mas não basta conhecê-los superficialmente. É preciso vivenciá-los. É nesse espírito que compreendemos a ritualística do grau de Companheiro — um conjunto de práticas que vão além da forma e revelam uma profunda jornada interior.

Raymundo D’Elia Junior, em seu livro Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro, dedica dois capítulos à análise dos rituais do segundo grau (instruções 26 e 27), demonstrando que a forma é apenas a casca da essência, e que o verdadeiro ritual se cumpre no interior do ser.

✦ O que é a ritualística maçônica?

A ritualística é o conjunto de gestos, palavras, sinais, marchas, posições e símbolos usados nas sessões maçônicas. É a linguagem cerimonial que organiza os trabalhos e dá forma à experiência iniciática.

No grau de Companheiro, essa ritualística é enriquecida com novos elementos. O maçom, que já foi um Aprendiz silencioso e observador, agora começa a atuar mais intensamente na dinâmica da Loja. Ele participa, questiona, representa, e, sobretudo, reflete.

Mas atenção: o ritual não é uma encenação. Ele é um meio de treinamento simbólico da alma. Através dele, o Companheiro internaliza os princípios da Ordem e os leva para sua vida profana.

✦ O simbolismo da prática ritual

D’Elia é claro: “O ritual só tem valor se vivido com consciência”. Muitos irmãos, segundo ele, caem na armadilha do automatismo — repetem palavras e gestos sem compreender seu real significado.

No entanto, a ritualística do segundo grau foi criada para promover exatamente o contrário: a atenção plena. Cada elemento — da marcha à palavra de passe, dos sinais às ferramentas — é uma chave para o entendimento da jornada espiritual.

Não por acaso, os rituais são realizados sempre com um encadeamento lógico. Eles simulam a construção do Templo Interior, um trabalho constante de lapidação do caráter, da mente e do espírito.

✦ A passagem do Aprendiz para o Companheiro

Quando o Aprendiz é elevado ao grau de Companheiro, ele atravessa simbolicamente um novo portal. Sua visão do mundo muda. Ele não apenas observa — agora é convidado a construir, questionar, dialogar.

Essa mudança exige uma nova ritualística, mais rica, mais exigente, mais simbólica. O Companheiro começa a entender que o verdadeiro Templo não está nas colunas do Oriente, mas na própria consciência.

Por isso, os rituais são compostos por símbolos de trabalho — régua, esquadro, compasso, alavanca. São instrumentos que antes serviam para desbastar, mas agora são usados para polir. Um novo tipo de esforço se inicia: o da autossuperação.

✦ O Companheiro e a construção da verdade

No grau de Companheiro, a ritualística está intimamente ligada ao trabalho e à busca pela Verdade. Os rituais não oferecem respostas prontas. Ao contrário, eles lançam perguntas, provocam, desafiam.

Como destaca D’Elia, “a repetição ritualística serve não para decorar, mas para internalizar”. Ao repetir símbolos, palavras e gestos, o Companheiro passa a viver o simbolismo.

Essa vivência o prepara para a etapa seguinte, o Mestrado, onde o conhecimento intelectual cede lugar à sabedoria espiritual. O ritual, então, é um ensaio contínuo da alma.

✦ O risco da mecanização

Um dos alertas mais contundentes do autor é sobre o risco da ritualística perder seu valor simbólico. Quando feita por obrigação, ou sem convicção, ela se torna um teatro vazio.

Segundo D’Elia, “o ritual é uma experiência viva. Se não for feito com verdade, perde sua força transformadora.” Por isso, é fundamental que os Companheiros estudem os significados, compreendam os gestos, e acima de tudo, vivam o que praticam.

✦ Ritual, silêncio e ação

O segundo grau é o grau do trabalho e da construção. A ritualística reflete esse dinamismo. Mas também exige silêncio interior. Como afirma a tradição maçônica, “o silêncio ensina mais do que o discurso”.

A verdadeira ritualística ocorre quando o Companheiro une o gesto externo à intenção interna. Quando o sinal é acompanhado de reflexão. Quando a marcha é feita com presença. Quando a palavra é dita com consciência.

Nesse sentido, cada sessão ritualística é uma oportunidade de crescimento pessoal. Um ensaio para a vida cotidiana. Um lembrete de que o templo precisa ser erguido todos os dias, dentro de nós.


📚 Referência bibliográfica

D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras Editora, 2019.

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