Introdução
Dentre os muitos elementos simbólicos que marcam o progresso do maçom nos graus simbólicos, poucos são tão cercados de reverência quanto a Palavra de Passe. No grau de Companheiro, essa palavra adquire uma função que vai muito além da sua utilidade prática: ela é um marco espiritual e um código moral.
Raymundo D’Elia Junior, em sua obra Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro, dedica a instrução nº 12 exclusivamente à análise da Palavra de Passe. Ao longo da explicação, ele revela sua função simbólica, sua origem tradicional e sua importância na identidade maçônica do Companheiro.
✦ Origem e função histórica da Palavra de Passe
Historicamente, a Palavra de Passe surgiu como forma de reconhecimento entre operários especializados — os antigos pedreiros livres — permitindo o acesso às obras e a identificação entre os verdadeiros membros da corporação.
A tradição maçônica preservou esse costume, mas o ressignificou profundamente. Agora, a Palavra de Passe não é apenas um elemento de segurança ritualística: é um símbolo de passagem espiritual, uma senha que marca a travessia entre o que se foi e o que se pretende ser.
✦ O valor simbólico da Palavra de Passe
Na visão de D’Elia, a Palavra de Passe carrega três dimensões simbólicas principais:
Identificação moral – Não basta conhecer a palavra: é preciso ser digno de portá-la. Ela simboliza que o Companheiro já vive certos valores que o grau exige.
Conexão iniciática – A palavra conecta o maçom a uma corrente invisível de sabedoria, unindo-o a todos os que trilham a mesma senda.
Desenvolvimento interior – Proferir a Palavra de Passe é reconhecer que se venceu uma etapa importante do caminho: a transição do saber teórico (Aprendiz) para o saber aplicado (Companheiro).
É como se ela dissesse: “Eu não apenas compreendo os símbolos. Eu os vivo.”
✦ O silêncio como parte do símbolo
Embora o conteúdo literal da Palavra de Passe seja reservado aos trabalhos internos da Loja, sua existência e significado podem — e devem — ser refletidos fora do templo.
Uma das lições mais fortes associadas a ela é o valor do silêncio e da discrição. O maçom deve saber quando falar e quando calar. A Palavra de Passe é um lembrete constante de que há conhecimentos que não se expõem — se experienciam.
Nesse aspecto, ela atua como um freio ao ego e à vaidade, convidando o Companheiro à humildade e à reserva. É, portanto, um símbolo de ética comunicacional: usar as palavras com consciência, retidão e propósito.
✦ O reconhecimento simbólico e moral
Além da função tradicional de acesso aos rituais, a Palavra de Passe tem um papel mais sutil: ela é um sinal de maturidade espiritual. Representa que o Companheiro já entende que o caminho não é linear, mas cheio de fases, desafios e símbolos a decifrar.
É o reconhecimento de que ele passou por provas, rituais e instruções que o transformaram internamente. O valor dessa palavra, então, não está em ser conhecida — mas em ter sido conquistada com mérito.
D’Elia afirma que o Companheiro deve refletir sempre sobre esse ponto: “A Palavra de Passe não pode ser uma senha decorada, mas uma vivência que se reconhece no olhar, na postura e na conduta do irmão.”
✦ Transição para a maestria
A Palavra de Passe também prepara o Companheiro para o próximo degrau: o Mestrado. Ela o acostuma com o conceito de palavras sagradas, que em graus superiores terão ainda mais peso e significado.
É uma preparação gradual para a consagração do verbo — elemento fundamental nos graus seguintes, onde a palavra se torna instrumento de criação, reconstrução e transmissão da luz.
Portanto, a Palavra de Passe é um ponto de inflexão. Marca o fim de um ciclo e o início de outro. Ela confirma que o maçom agora já possui as ferramentas necessárias para continuar a construção do Templo interior com mais autonomia e consciência.
📚 Referência bibliográfica
D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras Editora, 2019.

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