Introdução
A menção à Maçonaria de Altos Graus frequentemente evoca a imagem do cavaleiro templário e as vestimentas do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), com seus 33 graus de aprofundamento filosófico. Embora o REAA seja o rito mais praticado e conhecido globalmente, a Maçonaria é, na verdade, um universo de tradições e caminhos iniciáticos que se estendem muito além de um único sistema. Para o maçom sedento por mais conhecimento, o mundo das Ordens de Altos Graus é vasto e repleto de filosofias ricas e histórias intrigantes.
Este artigo se propõe a desbravar esse território menos conhecido, apresentando o Rito de York e o Rito de Memphis-Misraïm, que, cada um à sua maneira, oferecem visões complementares e enriquecedoras da jornada maçônica.
O Rito de York: A Tradição Americana e a Reconstrução do Templo
O Rito de York, comumente associado à Maçonaria americana, é uma Confederação de Corpos Maçônicos autônomos que juntos formam um sistema completo. Ele é frequentemente chamado de “Maçonaria Americana” e é uma alternativa para aqueles que desejam continuar sua jornada maçônica após os três graus da Maçonaria Simbólica.
Ao contrário do REAA, que utiliza um sistema numérico progressivo de 33 graus, o Rito de York é organizado em três Ordens principais e separadas, cada uma com seus próprios graus e regências:
Capítulos do Real Arco (Royal Arch Masonry): Considerado o coração do rito, os graus do Real Arco (Capitulares) continuam a história do Rei Salomão e a construção do Templo de Jerusalém. O grau de Mestre do Real Arco é o mais importante e se concentra na descoberta da Palavra Perdida do Mestre Maçom, um ponto de culminação da lenda do Terceiro Grau.
Conselhos Crípticos (Cryptic Masonry): Essa parte do rito aprofunda a história do Templo de Jerusalém, explorando os eventos que ocorreram em câmaras secretas (criptas) abaixo do Templo. Os graus crípticos revelam mistérios sobre o armazenamento de tesouros sagrados e a preservação do conhecimento maçônico.
Comendador de Cavaleiros Templários (Knights Templar): O último corpo do Rito de York é militar e cristão em sua essência. Ele não tem uma conexão histórica direta com a Ordem medieval, mas utiliza seu simbolismo para ensinar lições de cavalheirismo, honra e fé. Para ser um Cavaleiro Templário do Rito de York, o maçom deve ser Mestre do Real Arco e professar a fé em Jesus Cristo.
A filosofia do Rito de York é menos esotérica e mais direta do que a do REAA, focando na progressão histórica da Maçonaria, na literalidade da lenda do Templo e nas virtudes cristãs. Ele é um caminho de retorno às raízes e à simplicidade, oferecendo uma experiência maçônica distinta.
O Rito de Memphis-Misraïm: A Corrente Mística e Esotérica
Para aqueles que se sentem atraídos pela Maçonaria como um caminho de mistério e aprofundamento esotérico, o Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraïm é uma jornada incomparável. Nascido da fusão de dois ritos franceses do século XIX — o Rito de Misraïm (de origem egípcia) e o Rito de Memphis (de origem templária e mística) —, este sistema possui um número impressionante de graus: 99 no total, embora muitos sejam apenas títulos honoríficos.
O Memphis-Misraïm é uma síntese audaciosa de tradições. Seus graus abordam temas que vão do hermetismo egípcio e da alquimia à cabala, passando pelo gnosticismo, pelos mistérios gregos e pelos ensinamentos rosacruzes. É um rito para o maçom que busca uma compreensão mais profunda da natureza humana e da divindade através do simbolismo e do estudo de filosofias antigas.
A estrutura do Memphis-Misraïm é dividida em quatro séries:
Maçonaria Simbólica (Graus 1-3): Pratica os mesmos graus do Rito Escocês ou de outros, com pequenas variações.
Graus Filosóficos (Graus 4-33): Correspondem aos graus superiores de outros ritos, explorando a moral e a ética maçônica a partir de uma perspectiva esotérica.
Graus Místicos e Herméticos (Graus 34-90): Esta seção é a mais única, mergulhando o maçom em tradições egípcias, cabalísticas e alquímicas. O objetivo é a elevação espiritual e a busca pela gnose (conhecimento intuitivo).
Graus Administrativos e Soberanos (Graus 91-99): Destinados à administração e liderança do rito, com o Grande Hierofante ocupando o 99º grau.
A filosofia do Memphis-Misraïm é a da reintegração do ser humano à sua origem divina. O rito se vê como um depositário de um conhecimento antigo e oculto, que busca, através de seus graus, guiar o maçom na jornada de retorno à Luz.
A Unidade na Diversidade
A existência de múltiplos ritos maçônicos, como o Rito de York e o Rito de Memphis-Misraïm, não diminui a universalidade da Ordem. Pelo contrário, ela a enriquece. Cada rito é um caminho válido, uma interpretação única da mesma Verdade. Enquanto o REAA pode ser visto como um caminho de construção moral e filosófica, o Rito de York é uma jornada histórica e de reavivamento da lenda, e o Memphis-Misraïm é uma rota mística e esotérica.
Todos os ritos convergem para o mesmo ponto: a busca pela Verdade, pelo aperfeiçoamento pessoal e a dedicação ao Grande Arquiteto do Universo. O maçom que explora esses caminhos alternativos não está abandonando a Maçonaria, mas sim aprofundando sua compreensão de sua própria jornada, descobrindo que a riqueza da Ordem está em sua capacidade de oferecer diferentes chaves para a mesma porta, a porta do autoconhecimento e da iluminação.

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