Introdução
O Rito Adonhiramita representa uma das mais ricas e complexas tradições rituais da Maçonaria Universal, destacando-se por sua profundidade cênica, simbolismo elaborado e estrutura hierárquica única. Praticado no Brasil desde 1822, este rito mantém viva uma tradição milenar de ensinamentos iniciáticos.
Origem e Fundamentos Históricos
O Rito Adonhiramita chegou ao Brasil através do Grande Oriente Lusitano em 1822, sendo posteriormente regulamentado pelo Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita (ECMA). Este conselho constitui o legítimo sucessor do Grande Captulo dos Cavaleiros Noaquitas do Grande Oriente do Brasil, criado pelo Decreto nº 21 de 24 de abril de 1873.
O ECMA exerce supremo poder nacional e estrangeiro, político, administrativo, litúrgico, regularizador e disciplinar sobre o rito, preservando as generalidades litúrgicas tradicionais do Adonhiramita Barão de Tschoudy e incorporando elementos que enriqueceram os rituais dos graus ao longo dos séculos.
Princípios Basilares
O Rito Adonhiramita fundamenta-se em princípios basilares que o distinguem das demais tradições maçônicas. Entre estes princípios destacam-se a crença consciente no Princípio Criador – Grande Arquiteto do Universo, a fé na imortalidade da alma e na evolução de todos os seres, a investigação constante da verdade e o combate à prepotência, ignorância e superstição.
O rito enfatiza a rígida obediência à lei, aplicação do direito e distribuição de justiça, bem como o indeclinável direito do homem de expor suas ideias. Promove o trabalho incessante em prol da Ordem Maçônica Universal e do aperfeiçoamento moral e intelectual da criatura humana.
Cerimônias Distintivas
Uma das características mais marcantes do Rito Adonhiramita são suas cerimônias únicas, particularmente a Cerimônia de Incensação e o Cerimonial do Fogo. Estas práticas litúrgicas, executadas em todas as sessões, conferem ao rito sua complexidade e riqueza cênica incomparáveis.
A Cerimônia de Incensação utiliza uma mistura específica de resinas – rosa ou olíbano, mirra e benjoim na proporção 3:2:1. O Mestre de Cerimônias incensa as Luzes da Loja pronunciando as palavras sagradas “Sabedoria”, “Força” e “Beleza”, seguindo uma rituística precisa que culmina com a purificação espiritual do templo.
O Cerimonial do Fogo envolve o acendimento das velas através da chama sagrada do Fogo Eterno, localizado no Oriente entre o Altar dos Juramentos e o da Sabedoria. Este ritual simboliza a invocação da presença divina através de Sua Onisciência (Sabedoria), Onipotência (Força) e Onipresença (Beleza).
Estrutura Hierárquica
O Rito Adonhiramita organiza-se em uma hierarquia de 33 graus, distribuídos em sete classes distintas, cada uma correspondendo a diferentes oficinas litúrgicas. Esta estrutura complexa permite um desenvolvimento progressivo e sistemático dos ensinamentos iniciáticos.
A Primeira Classe compreende a Augusta e Respeitável Loja Simbólica, composta pelos três graus fundamentais: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom. A Segunda Classe corresponde à Augusta Loja de Perfeição, abrangendo do 4º ao 14º grau, incluindo os graus de Mestre Secreto, Mestre Perfeito e Perfeito e Sublime Maçom.
As classes superiores incluem o Sublime Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz (15º ao 18º grau), o Grande e Sublime Capítulo de Cavaleiros Noaquitas (19º ao 21º grau), o Ilustre Conselho Filosófico de Cavaleiros Kadosh (22º ao 30º grau), e finalmente as duas últimas classes que compõem a Soberana Congregação Patriarcal (31º ao 33º grau).
Diferenças Rituais Fundamentais
O Rito Adonhiramita distingue-se dos demais ritos por várias características únicas. Enquanto outros ritos focam principalmente nos aspectos morais e filosóficos, o Adonhiramita incorpora elementos místicos e esotéricos mais pronunciados, especialmente nas cerimônias de incensação e do fogo sagrado.
A movimentação cerimonial é mais elaborada, exigindo maior precisão na execução dos rituais. O uso de incenso e a liturgia do fogo criam uma atmosfera de sublimação espiritual que diferencia significativamente as sessões adonhiramitas das praticadas em outros ritos.
Simbolismo e Alegorias
O simbolismo adonhiramita é particularmente rico em alegorias relacionadas à construção do Templo de Salomão e às tradições judaico-cristãs. A figura de Adonhiram, o arquiteto assassinado, assume papel central na narrativa ritual, simbolizando a luta entre a luz e as trevas, entre o conhecimento e a ignorância.
As doze badaladas executadas em todas as sessões, o uso específico de cores e ornamentos, e a disposição particular dos elementos no templo criam um conjunto simbólico coeso que facilita a transmissão dos ensinamentos iniciáticos.
Organização Administrativa
A administração do Rito Adonhiramita segue uma estrutura hierárquica rigorosa, com autoridades específicas para cada nível. O Grande Patriarca Regente constitui a máxima autoridade adonhiramita, presidindo a Soberana Congregação dos Patriarcas Inspetores Gerais, composta por no máximo 72 membros efetivos decorados com o 33º grau.
Esta organização permite a manutenção da uniformidade ritual e a preservação das tradições, assegurando que os ensinamentos sejam transmitidos de forma íntegra através das gerações de iniciados.
Relevância Contemporânea
O Rito Adonhiramita mantém sua relevância na Maçonaria contemporânea por oferecer uma experiência iniciática diferenciada, que combina tradição, beleza cênica e profundidade filosófica. Sua prática contribui para a diversidade da experiência maçônica, permitindo que diferentes temperamentos espirituais encontrem caminhos adequados para seu desenvolvimento interior.
A preservação deste rito representa um patrimônio cultural inestimável para a Maçonaria Universal, mantendo viva uma tradição que conecta os praticantes modernos às raízes mais profundas da arte real.
Referências Bibliográficas
D’ELIA JUNIOR, Raymundo. 100 Instruções de Aprendiz. [S.l.: s.n.], [2006?]. Disponível em arquivo PDF. p. 220-224.

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