A Bíblia no Grau de Companheiro: Símbolo e Reflexão

Introdução

Na Maçonaria, a Bíblia ocupa lugar central. Mais que um livro sagrado no sentido tradicional, ela é considerada uma das Três Grandes Luzes da Ordem, ao lado do esquadro e do compasso. No grau de Companheiro, seu simbolismo se aprofunda, oferecendo ao iniciado novos sentidos e desafios de interpretação.

Raymundo D’Elia Junior, em seu livro Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro, dedica a instrução nº 16 à reflexão sobre a Bíblia como elemento simbólico e filosófico no segundo grau. Sua abordagem é clara: a Bíblia maçônica não é exclusiva de uma religião, mas é um símbolo universal da busca pela Verdade.

✦ A Bíblia como símbolo da Verdade revelada

Desde os tempos do Aprendiz, o Venerável Livro da Lei já está presente sobre o Altar dos Juramentos. No grau de Companheiro, porém, sua presença se torna mais exigente.

Não basta reconhecê-la como fonte de inspiração: o Companheiro é convidado a mergulhar no simbolismo contido nela, lendo com olhos iniciáticos.

D’Elia reforça que, na Maçonaria, a Bíblia representa a Vontade do Grande Arquiteto do Universo revelada à humanidade. Mas o sentido dessa vontade deve ser constantemente buscado — com discernimento, estudo e reflexão.

✦ A Bíblia não é dogma: é luz

É importante destacar que a Maçonaria não impõe um credo. O maçom pode ser cristão, judeu, muçulmano ou pertencer a qualquer outra crença que aceite a existência de um princípio superior. Nesse contexto, a Bíblia é entendida não como um conjunto de dogmas, mas como um símbolo da Luz — da Revelação.

Segundo o autor, “o Companheiro deve aprender a interpretar o texto sagrado simbolicamente”. Ou seja, o que se busca não é a literalidade, mas a essência moral e espiritual dos ensinamentos.

Por isso, o maçom é estimulado a ler a Bíblia com profundidade e neutralidade, analisando o que cada trecho pode significar dentro da sua jornada pessoal e da construção do Templo interior.

✦ Passagens simbólicas e reflexões

Ao longo do segundo grau, diversas passagens da Bíblia são citadas ou representadas simbolicamente. Elas não são escolhidas ao acaso, mas possuem relação direta com os temas que envolvem o grau: trabalho, sabedoria, construção, lapidação e moralidade.

Exemplos incluem:

  • Salomão e a construção do Templo – símbolo do esforço coletivo guiado pela sabedoria;

  • As Tábuas da Lei – representação da ordem moral;

  • Os Provérbios – fonte de conselhos éticos e filosóficos;

  • O número 5 e seus múltiplos simbolismos – recorrente no livro dos Reis e nos Salmos.

A leitura maçônica, portanto, é analógica e reflexiva. O Companheiro não procura respostas prontas, mas perguntas que o ajudem a evoluir.

✦ A Bíblia e o altar: um ponto de equilíbrio

O lugar da Bíblia no templo também é altamente simbólico: ela está ao centro, sobre o altar, e com frequência, entre o esquadro e o compasso. Essa disposição ensina que:

  • A Bíblia (a Lei) deve ser a base da ação;

  • O esquadro (moralidade) e o compasso (limites e equilíbrio) devem ser usados para interpretar a Lei com justiça e sabedoria.

A leitura do Companheiro deve, portanto, unir tradição e razão, fé e crítica, sentimento e lógica. O objetivo não é decorar versículos, mas compreender o espírito das palavras.

✦ A Ética como caminho espiritual

D’Elia destaca que, no segundo grau, a espiritualidade passa a ser construída com maior responsabilidade. O Companheiro já não é mais um observador: ele deve agir com consciência, aplicar o que aprendeu e construir em si mesmo os princípios que a Bíblia sugere.

Nesse contexto, a Bíblia passa a ser um manual ético-filosófico, que não pertence a uma religião específica, mas à humanidade. Ela convida à ação reta, ao respeito, à fraternidade e ao amor ao próximo.

✦ Conclusão: A Bíblia como espelho do iniciado

O Companheiro que lê a Bíblia maçonicamente entende que não está diante de um livro que fala do passado, mas de um espelho que reflete sua alma atual. Suas histórias, personagens e ensinamentos são metáforas da vida interior e da jornada maçônica.

Por isso, ao abrir a Bíblia sobre o altar, o Companheiro está, na verdade, abrindo um portal para a introspecção. Ele é chamado a ser coerente com a Luz que afirma seguir, e a buscar, em cada leitura, um novo degrau de compreensão — da palavra, do mundo e de si mesmo.


📚 Referência bibliográfica

D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras Editora, 2019.

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