Introdução
Para os não iniciados, a Maçonaria pode parecer apenas um conjunto de rituais e cerimônias enigmáticas. Mas para aqueles que trilham seu caminho, cada gesto, palavra e passo carrega significado. É nesse contexto que se destaca a Marcha do Companheiro, tema central da instrução nº 13 do livro Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro, de Raymundo D’Elia Junior.
Muito além de uma sequência de movimentos, a marcha do Companheiro simboliza a progressão espiritual e moral de quem já venceu os desafios do primeiro grau e se encontra em plena jornada rumo à maestria.
✦ O que é a Marcha Maçônica?
A marcha é o modo como o maçom se desloca ritualisticamente dentro da Loja. Ela varia conforme o grau — Aprendiz, Companheiro e Mestre — e não é meramente formal: expressa valores, estados de consciência e momentos iniciáticos.
No grau de Companheiro, a marcha adquire novas exigências: os passos são mais numerosos, os gestos mais conscientes, os sinais mais simbólicos. O Companheiro não caminha apenas com os pés — caminha com a mente e com o espírito.
✦ Estrutura da Marcha do Companheiro
Embora os detalhes específicos sejam reservados à prática ritualística e não devam ser divulgados fora do ambiente apropriado, o autor descreve de forma simbólica que a marcha representa a movimentação do homem que, após desbastar sua pedra bruta (Aprendiz), agora busca o polimento interior.
Os passos seguem um ritmo deliberado, com paradas simbólicas e gestos que refletem as virtudes que devem ser internalizadas, como:
Paciência
Determinação
Busca pela Verdade
Concentração
Disciplina
Segundo D’Elia, a marcha é uma representação da própria vida: um caminhar contínuo, que nos desafia a encontrar equilíbrio entre nossas emoções, nossa razão e nossas ações.
✦ O Significado por Trás de Cada Passo
Cada passo da marcha é uma etapa na construção do templo interior. Em vez de simples deslocamento físico, trata-se de uma coreografia que espelha a construção moral do indivíduo.
É interessante observar que a marcha do Companheiro envolve maior complexidade do que a do Aprendiz. Isso porque o Companheiro já demonstra domínio sobre os fundamentos e está pronto para iniciar um caminho mais elaborado e exigente.
Esse processo é um lembrete constante de que o progresso espiritual não se dá por saltos, mas por passos conscientes. Cada movimento representa uma pequena vitória sobre a ignorância, sobre os vícios, sobre as ilusões do mundo profano.
✦ Caminho do Meio: entre a Matéria e o Espírito
Na marcha do Companheiro, a simbologia indica que o maçom já não é um neófito. Ele passou pelo batismo do silêncio, aprendeu a ouvir, a observar. Agora é convidado a agir com sabedoria.
D’Elia associa essa marcha à “caminhada do homem equilibrado”, que não rejeita o mundo, mas também não se prende a ele. O Companheiro transita entre os opostos — luz e sombra, razão e fé — aprendendo com ambos.
Essa transição do material para o espiritual é simbolizada pelo próprio ambiente ritualístico: o maçom atravessa espaços, dirige-se ao altar, cruza colunas, todos em perfeita harmonia com o significado do grau.
✦ Um exercício de atenção plena
A prática da marcha desenvolve no Companheiro uma atenção plena ritualística, algo semelhante ao que as tradições orientais chamam de “meditação em movimento”.
Não se trata de caminhar mecanicamente, mas de concentrar-se na intenção do passo, na postura do corpo, na respiração e na vibração do espaço sagrado. É uma forma de alinhar corpo, mente e espírito.
Nesse sentido, a marcha não é apenas uma representação — é uma experiência espiritual que integra o Companheiro ao ambiente da Loja e o prepara para etapas superiores.
✦ Conclusão: uma jornada que continua
A marcha do Companheiro, embora parte de um ritual formal, é um espelho do caminhar interno de cada maçom. Com ela, o iniciado recorda que sua evolução depende de suas ações concretas, de seu foco e de sua constância.
Em suas palavras finais, D’Elia reforça que o Companheiro “deve marchar com firmeza, não apenas dentro da Loja, mas principalmente fora dela, onde sua conduta será observada e seu exemplo poderá iluminar outros.”
Portanto, da próxima vez que um Companheiro der seus passos ritualísticos, que ele os dê com a consciência de que está andando em direção a si mesmo, lapidando sua alma, e ajudando a construir, passo a passo, o grande templo da humanidade.
📚 Referência bibliográfica
D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras Editora, 2019.

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