As Origens Remotas da Maçonaria: Desvendando o Movimento Primordial

Introdução

A história da Maçonaria é um tema de constante fascínio e debate, e sua compreensão nos leva a um passado nebuloso, onde os contornos de sua fundação se perdem nas “brumas do passado”. Contudo, é possível afirmar que a Maçonaria, como a conhecemos hoje, não surgiu de forma espontânea ou com um nome pré-determinado, mas sim como um “Movimento” gradual que foi reunindo ideais e práticas ao longo dos séculos.

Este “Movimento” primordial, que mais tarde daria corpo à nossa Instituição, nasceu como uma reação a sistemas sociais primitivos e caóticos, impulsionado pela necessidade de os homens se valorizarem e encontrarem a felicidade. Se hoje a psicologia e as ciências sociais nos auxiliam a compreender os desafios humanos, devemos honrar esses primitivos estudiosos que, em sua busca incessante, contribuíram para o desenvolvimento do autoconhecimento.

Da Índia aos Brâmanes: A Semente da Liberdade

A Origens Remotas da Maçonaria nos levam inicialmente à Índia. Lá, o “Movimento” não nasceu com o primeiro hindu, mas se concretizou em reação a um sistema politeísta que criava castas e sofrimentos. Buscava-se a implantação do culto a um só Deus e a abolição das diferenças entre as castas, que, infelizmente, ainda subsistem.

O “Movimento” na Índia clamava por transformação política, proclamando a “igualdade e a liberdade dos homens”. Onde há escravidão e dependência, o homem não se valoriza; ele nasce livre e busca sua própria harmonização com o Grande Construtor do Universo. Essa “dependência harmônica” com Deus, diferentemente da escravidão, é um pilar desse Movimento.

Nesse contexto, surge Buda, que firma sua filosofia nos mesmos princípios do Cristianismo: a valorização do Homem para harmonizá-lo com a Vontade Divina. Buda rompeu com o privilégio odioso dos brâmanes, que detinham o sacerdócio, afirmando que sacerdotes poderiam surgir de qualquer parte. Ele separou o poder espiritual do poder temporal, iniciando a “liberdade de consciência”, um fator novo que mais tarde explodiria preconceitos religiosos na Europa. O Budismo, impulsionado por esses ideais, espalhou-se por toda a Ásia e Europa, alcançando diversas civilizações.

Zoroastro e os Mistérios da Luz e das Trevas

Séculos após Buda, encontramos Zoroastro, que surge em um momento em que o “Movimento” já estava organizado dentro de várias sociedades secretas. Interessa-nos aqui como a Origens Remotas da Maçonaria se conecta a ele. Os seguidores de Zoroastro eram iniciados nos “mistérios do Sol e de Mitra”, enfrentando provas severas. Zoroastro foi o segundo, após Buda, a transmitir com segurança os princípios filosóficos desse Movimento.

Em trechos de sua biografia, traduzida por Anketil du Perron, vemos elementos que comprovam a ligação com conceitos maçônicos atuais. Brahma, brilhante como o Sol, aparece a Zoroastro por ordem de Ormuzd (o criador de todos os seres e mundos) e lhe pergunta o que ele busca. Zoroastro responde que só busca o que agrada a Ormuzd e pede para ser ensinado o caminho da Lei. Ele é elevado pelos ares até a presença de Deus, onde “viu a glória celestial, resplandecente e iluminada”.

Essa descrição tem uma ideia exata de como inicia o caminho para penetrar nos mistérios maçônicos. Deus ensina a Zoroastro que o melhor servidor é o que tem o “coração mais reto, o cumpridor dos seus deveres, é aquele que se mostra liberal, professando a igualdade de Justiça com todos os homens e cujos olhos não se voltem para as riquezas com excessiva ambição. Aquele cujo coração generoso pratica o bem a tudo o que existe no mundo”. Essas palavras de Brahma foram transcritas e reproduzidas na Maçonaria, fazendo parte de seus diversos ritos.

Zoroastro também foi agraciado com a experiência de atravessar uma “montanha de fogo” sem dano e ter metais fundidos sobre seu ventre, o que encontramos nos cerimoniais da Maçonaria atual. Isso demonstra que a Maçonaria teve raízes muito profundas em Zoroastro, assim como em Buda. O aspecto filosófico desse Movimento se realça na luta entre o bem e o mal, a Luz e as Trevas. Os iniciados são os “Sacerdotes da Luz”, que se obrigam a propalar o bem e combater o mal, até que o Bem reine sozinho sobre a Terra, transformando-a em um grande Templo de igualdade.

A Marcha Inexorável pelo Egito: Onde o Movimento se Fez “Pedreiro Livre”

Em sua “inexorável marcha do Oriente para o Ocidente”, o Movimento chega ao Egito, encontra o Nilo e conquista toda a terra. Lá, encontra uma civilização misteriosa, rica em cultos e liturgia em torno da valorização dos Reis, e contribui para seu engrandecimento. O Movimento luta para banir a teocracia injusta e o politeísmo, impulsionando o monoteísmo com o deus Sol. O poderoso Menés, que surgiu após trinta e uma dinastias, aliou-se ao Movimento para arrancar o poder dos sacerdotes e iniciar uma fase brilhante na civilização egípcia.

O Movimento no Egito cumpria duas missões: “aperfeiçoar as leis e civilizar os homens”. Após a queda dos sacerdotes, ele criou novos ambientes para suas reuniões, fechados a indiscrições, instituindo “palavras de passe, senhas, e todos os cuidados, iguais ou mais rigorosos, ainda, que os seguidos pela Maçonaria atual”. Os iniciados egípcios também adotaram o princípio filosófico da luta constante entre a Luz e as trevas, e o mito de Ísis e Osíris.

Foi no Egito que o Movimento se fez “pedreiro livre”. Embora não tenha trazido uma grande contribuição para a arquitetura egípcia, ele utilizou o que encontrou como base de seu programa, ditando as “regras áureas da construção” para os povos sucessivos. A Maçonaria, posteriormente, participaria da engenharia em plena civilização europeia cristã. O próprio Templo de Salomão, um exemplo clássico da arte de construir, foi resultado do trabalho impulsionado pelo Movimento através de Hiram Abif.

É crucial não confundir os símbolos do Movimento, e mais tarde a simbologia maçônica, com o simbolismo sacerdotal egípcio. O misticismo sacerdotal criou símbolos para sustentar “grosseiras e absurdas superstições”, utilizando-se de astrologia e magia para predizer o futuro e controlar o povo. Contra essa “embriaguez de poder, de magia e superstição”, o Movimento se levantou, dando à simbologia um rumo racional e valioso, que seria, mais tarde, transmitido intacto à Maçonaria.

A Continuidade e o Desafio da História

O Movimento, enfraquecido por guerras e invasões, desaparece para reaparecer entre os Hebreus fugitivos, como narra a História Sagrada. A história do povo Hebreu, documentada e intacta em seus livros, torna-se uma fonte mais segura. Contudo, é importante não confundir a iniciação egípcia com a maçônica atual, pois são distintas, apesar de algumas alegadas similitudes.

As Origens Remotas da Maçonaria nos mostram que a Maçonaria é um legado de ideais de liberdade, igualdade, fraternidade e busca pelo conhecimento que, embora não tenha surgido com esse nome, esteve presente em movimentos transformadores ao longo da história da humanidade, moldando o caminho para a Instituição que hoje conhecemos.


Referências Bibliográficas:

CAMINO, Rizzardo da. Simbolismo do Primeiro Grau: Aprendiz. São Paulo: Livraria Maçônica Paulo Fuchs, 2001.

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