Diversidade no Grau de Companheiro: Unidade e Caminho

Introdução

O grau de Companheiro é, por excelência, o grau do progresso e da ação. É nele que o maçom, já desbastado como Aprendiz, começa a caminhar, estudar e aplicar os ensinamentos recebidos. No entanto, é também nesse grau que o iniciado começa a perceber a diversidade simbólica e ritualística existente dentro da própria Maçonaria.

Raymundo D’Elia Junior, no capítulo 50 do livro Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro, discute esse aspecto pouco comentado do segundo grau: a pluralidade de abordagens, símbolos e interpretações que, longe de fragmentar a Ordem, a enriquecem.

✦ A diversidade dentro da unidade

É comum pensar que a Maçonaria segue um único modelo ritualístico, mas isso é um equívoco. Existem vários ritos reconhecidos, como o Escocês Antigo e Aceito, o Adonhiramita, o York, entre outros. E mesmo dentro desses, há diferenças sutis entre as Lojas, oriundas de adaptações culturais, históricas e até regionais.

No grau de Companheiro, isso se torna evidente: a forma como se apresenta o Painel, a instrução das ferramentas, o uso dos símbolos e até o conteúdo da marcha e dos sinais pode variar. Mas o que não muda é o propósito iniciático e espiritual do grau.

D’Elia defende que essa diversidade é positiva. Ela reflete a liberdade de pensamento maçônico e o fato de que a Verdade não se revela de forma única, mas sim por múltiplos caminhos que conduzem ao mesmo centro.

✦ Generalidades que revelam o essencial

Apesar das variações, há elementos universais que caracterizam o grau de Companheiro em qualquer rito ou região:

  • A ênfase no trabalho como símbolo da transformação moral;

  • A evolução do simbolismo em relação ao grau de Aprendiz;

  • A valorização da Estrela Flamígera e da Letra G como centros de luz e sabedoria;

  • O uso de novas ferramentas simbólicas, que apontam para o domínio de si e da razão;

  • A introdução de temas filosóficos e éticos mais complexos.

Essas generalidades são como pilares invisíveis que sustentam o edifício simbólico do grau, ainda que o acabamento — isto é, os detalhes do ritual — mude de acordo com o lugar.

D’Elia afirma: “Há uma unidade essencial no coração da diversidade maçônica.” E é papel do Companheiro reconhecer essa unidade, mesmo diante das diferenças externas.

✦ A importância da tolerância ritualística

Ao avançar no segundo grau, o Companheiro começa a visitar outras Lojas, participar de sessões com irmãos de outros orientes, e isso pode gerar estranhamento ao perceber pequenas diferenças em rituais que supostamente são os mesmos.

Nesse momento, entra em cena uma das virtudes mais importantes do grau de Companheiro: a tolerância.

O verdadeiro Companheiro entende que o valor da Maçonaria não está apenas na letra do ritual, mas no espírito com que ele é vivido. A diversidade não o confunde — o inspira. Ele compreende que está diante de uma tradição viva, moldada por séculos de história, cultura e experiência.

✦ A diversidade como ferramenta de crescimento

Assim como cada pedra do Templo tem seu formato, mas todas colaboram para a mesma construção, cada variação ritualística traz um ensinamento próprio.

A diversidade no grau de Companheiro é também um convite ao estudo comparado, à ampliação da visão simbólica, à quebra de paradigmas mentais.

Para D’Elia, o Companheiro que se expõe à diversidade cresce mais rápido, pois aprende a buscar o essencial, e a identificar a verdade mesmo quando ela está vestida de símbolos diferentes.

✦ Caminhos diferentes, um mesmo destino

A grande lição da diversidade no grau de Companheiro é esta: a Maçonaria não exige uniformidade, mas autenticidade. O objetivo é a lapidação do ser, e isso pode se dar por diferentes linguagens, desde que guiadas pela moral, pela luz e pela fraternidade.

Cabe ao Companheiro, portanto, não se apegar à forma, mas buscar a essência. Ser receptivo às diferenças e transformá-las em sabedoria. Ter discernimento para entender que, mesmo com caminhos distintos, todos os irmãos estão marchando em direção à mesma meta: o aperfeiçoamento moral e espiritual.


📚 Referência bibliográfica

D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria – 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras Editora, 2019.

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