Maçonaria e Religião: GADU e a Tolerância Espiritual

Introdução

A relação entre Maçonaria e religião constitui um dos aspectos mais fascinantes e incompreendidos da Sublime Ordem. Longe de ser uma religião propriamente dita, a Maçonaria estabelece uma ponte universal entre diferentes tradições espirituais, promovendo a tolerância e o respeito mútuo entre homens de diversas crenças.

O Grande Arquiteto do Universo

O conceito do Grande Arquiteto do Universo (GADU) representa o fundamento espiritual da Maçonaria, constituindo uma das Leis Fundamentais da Ordem que exige a crença no Princípio Criador e numa existência futura. Este conceito não pretende definir ou limitar a divindade, mas sim criar um denominador comum que permita a união fraterna entre homens de diferentes tradições religiosas.

O GADU não é uma divindade específica de qualquer religião particular, mas sim o reconhecimento universal da existência de um Princípio Superior que governa o universo. Esta abordagem permite que cristãos, judeus, protestantes, espíritas, budistas, maometanos, brmanes e seguidores de outras tradições espirituais se unam harmoniosamente ao redor do Altar dos Maçons.

Tolerância como Princípio Cardeal

A tolerância constitui o princípio cardeal nas relações humanas dentro da Maçonaria, conforme estabelecido nas constituições das principais potências maçônicas mundiais. Este princípio não significa relativismo religioso, mas sim o respeito às convicções e à dignidade de cada pessoa, permitindo que todos pratiquem suas crenças particulares sem interferência ou julgamento.

Sob o abrigo desse sábio conselho, todas as denominações religiosas podem combinar harmoniosamente em trabalho moral e intelectual. A Maçonaria reconhece que Deus está presente em todas as tradições espirituais sinceras, independentemente da forma específica de culto ou denominação adotada.

O Livro da Lei Universal

Uma das manifestações mais práticas desta tolerância religiosa é o uso do Livro da Lei apropriado a cada contexto cultural. Em países cristãos, o Livro da Lei constitui-se no Antigo e Novo Testamento – a Bíblia. Em regiões onde o judaísmo predomina, apenas o Antigo Testamento é suficiente. Nos países maometanos, utiliza-se o Alcorão, e assim sucessivamente para outras tradições.

Esta flexibilidade demonstra que a Maçonaria não privilegia nenhuma revelação específica, mas reconhece a legitimidade de diferentes caminhos espirituais. O Livro da Lei deve ser para o maçom especulativo sua viga mestra espiritual, sempre presente durante os trabalhos como regra e diretriz da própria conduta.

A Luz como Símbolo Universal

A Luz representa um dos símbolos fundamentais da Maçonaria, constituindo o primeiro símbolo importante apresentado ao neófito em sua iniciação. Este símbolo contém a própria essência da Maçonaria especulativa, representando intrinsecamente a busca da verdade procurada por todos os integrantes ao longo do tempo.

Na tradição maçônica, a Luz não é simplesmente a claridade material que afasta a obscuridade física, mas simboliza a iluminação espiritual que dissipa a ignorância mental e moral. Esta Luz coloca diante do iniciado as sublimes verdades da religião, filosofia e ciência, independentemente de sua tradição específica de origem.

Não-Interferência na Fé Individual

A Maçonaria jamais interfere na fé religiosa individual de seus integrantes, exceto no que se refere à crença fundamental na existência do Criador. Esta posição permite que cada maçom mantenha e pratique sua religião particular, enquanto participa da vida fraterna da Ordem em bases universais de moral e virtude.

O verdadeiro maçom, imbuído do espírito liberal, jamais tratará qualquer religião com zombaria ou desprezo. Seu dever de consciência e sabedoria baseia-se no reconhecimento de que todas as tradições espirituais sinceras podem conduzir ao maior espírito elevado de Luz, pelos caminhos que cada um escolher e que melhor lhe convier.

Simbolismo Religioso Universal

Os templos maçônicos incorporam simbolismo religioso de diversas tradições, refletindo a universalidade da Ordem. A Escada Teológica, que representa a escada de Jacó vista em visão indo da Terra ao Céu, simboliza a ascensão espiritual comum a muitas tradições. A Caridade ocupa o último degrau desta escada, equivalendo ao Amor Divino que constitui a sublime essência do Criador.

O ponto dentro do círculo tornou-se emblema universal que expressa o Templo de Deus, referindo-se ao círculo planetário no centro do qual o Sol se encontra fixo como Deus Universal – o Pai da Natureza. Este simbolismo transcende denominações específicas, falando à experiência espiritual humana universal.

Objetivos Espirituais Comuns

A Maçonaria, tendo por base a existência de Deus e a imortalidade da alma, considera o homem como o Templo Vivo de Deus – o Templo construído sem som de machado ou ruído de metal. Seus objetivos incluem a união do gênero humano numa fraternidade universal, o exercício da benevolência, a prática das artes e virtudes, e o estudo das influências e transformações da natureza e de Deus.

Características não-Dogmáticas

Embora a Maçonaria possua caráter religioso no sentido amplo da palavra, ela não constitui uma religião dogmática. Não prescreve credos específicos nem estabelece doutrinas teológicas particulares. Seu enfoque religioso manifesta-se exclusivamente na rituística e no simbolismo, mantendo sempre a liberdade de pensamento como base e arcabouço de toda filosofia maçônica.

Fraternidade Inter-religiosa

A experiência maçônica demonstra que homens de diferentes tradições religiosas podem trabalhar juntos em perfeita harmonia quando unidos por objetivos elevados de aperfeiçoamento moral e serviço à humanidade. Esta fraternidade inter-religiosa constitui um modelo para a sociedade mais ampla, mostrando que diferenças doutrinárias não precisam impedir a cooperação em causas nobres.

A Maçonaria não exclui qualquer irmão da fraternidade que pratique a crença no GADU, na fraternidade humana e na imortalidade da alma, independentemente da denominação específica de sua tradição espiritual.

A relação entre Maçonaria e religião exemplifica como diferentes tradições espirituais podem enriquecer-se mutuamente através do diálogo fraterno e da colaboração em objetivos comuns de elevação humana e serviço ao bem comum.

Referências Bibliográficas

D’ELIA JUNIOR, Raymundo. 100 Instruções de Aprendiz. [S.l.: s.n.], [2006?]. Disponível em arquivo PDF. p. 217-220.

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