A Marcha do Companheiro: Novos Passos em Direção à Luz e ao Conhecimento

No coração da liturgia maçônica, cada gesto, cada movimento e cada “Marcha” são carregados de um simbolismo profundo, representando etapas cruciais na jornada de aperfeiçoamento do Maçom. A Marcha do Companheiro não é uma exceção; ela é a expressão corporal da evolução do Obreiro, um convite a novos patamares de conhecimento e responsabilidade.

A Maçonaria preza pela estrita obediência à sua hierarquia e pelo equilíbrio demonstrado nas ações, considerando-os indispensáveis para a sustentação de suas Leis e Regulamentos. A Marcha do Companheiro é um desses exercícios que, quando praticados com fidelidade, contribuem para a formação de um comportamento coletivo que, com o tempo, aspira à perfeição.

Do Aprendiz ao Companheiro: A Evolução nos Passos

Para compreendermos a Marcha do Companheiro, é essencial revisitarmos a marcha do Aprendiz. O Aprendiz inicia sua jornada com três passos em esquadria, executados de forma quase indecisa e arrastada em linha reta. Essa marcha simboliza a fase inicial da busca, os primeiros contatos com a luz e a superação da ignorância do mundo profano.

Ao ser elevado ao Grau de Companheiro, o Obreiro executa inicialmente a Marcha integral de Aprendiz, mas a complementa com mais dois passos adicionais. O primeiro é à frente e deslocado à direita, e o segundo, também à frente, retorna ao caminho reto. A soma desses passos totaliza cinco, um número de profunda importância para o Grau de Companheiro. Esses dois passos extras, em particular, indicam uma nova trajetória, diversa daquela já trilhada como Aprendiz, marcando o início de uma fase mais complexa e ativa.

O Simbolismo dos Passos Adicionais: Beleza, Geração e Espiritualidade

Os “dois passos adicionais” da Marcha do Companheiro carregam múltiplos e ricos significados, que apontam para a nova dimensão de atuação do Obreiro:

• Desvio à direita com passo lateral: Simboliza que as ações do Companheiro devem agora se “deslocar” no sentido da “beleza, geração e criatividade”. Na nova condição, o Maçom está apto a exercer sua missão, atuando no mundo profano e contribuindo para o aperfeiçoamento do próximo, em analogia com a figura de Vênus, que representa a mulher.
  
   
• Total de Cinco Passos: A completude dos cinco passos na Marcha do Companheiro recorda outros elementos quinários do Grau, que reforçam sua identidade e objetivos. Estão entre eles: as cinco Viagens no Cerimonial de Elevação; os cinco Golpes de Malhete praticados; as cinco Pancadas da Bateria; as cinco “posições” que constituem o Sinal de Reconhecimento; e os cinco pontos do “toque”.
  
   
• Progressão Simbólica: Os “três (3) iniciais” da marcha significam as “três (3) primeiras Viagens” em direção à busca da Evolução. O “quarto (4º) passo para a direita” mostra a direção a seguir e as lições dessa “quarta (4) Viagem”. E o “quinto (5º) de retorno à linha reta”, aponta para a sabedoria, objetivando a espiritualidade.
  
   

Postura e Compromisso no Templo e na Vida

Apesar de algumas discussões sobre a manutenção da postura ritualística completa durante a marcha, as Potências Maçônicas, incluindo Grandes Orientes e Grandes Lojas, orientam que a Marcha seja executada concomitantemente com o “Sinal de Ordem” de cada Grau. Isso garante a sacralidade do ritual e a conexão entre o movimento físico e o significado espiritual que ele carrega. A “Postura De Pé e à Ordem” e a Marcha são exercícios que exigem esmero, servindo de exemplo e paradigma para os Maçons mais novos.

Os ensinamentos do Segundo Grau, materializados na Marcha do Companheiro, promovem o aperfeiçoamento do Obreiro e devem ser aplicados ativamente fora do Templo. É uma contribuição individual para a melhoria das condições e o crescimento espiritual-cultural da Humanidade.

Em suma, a Marcha do Companheiro é muito mais do que um conjunto de passos; é uma representação viva da evolução, da busca constante por conhecimento e da responsabilidade de atuar como um agente de beleza, geração e espiritualidade no mundo.

Referências Bibliográficas:

D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2019.