A Ritualística do Grau de Companheiro: Desvendando a Liturgia e o Significado Oculto

Introdução

A Maçonaria é, em sua essência, uma escola de mistérios, e sua aprendizagem se dá por meio de uma complexa e rica Ritualística de Companheiro. Cada Grau, com seus próprios ritos e cerimoniais, serve como um veículo para a transmissão de conhecimentos profundos e valores atemporais. O Grau de Companheiro, o segundo na escala hierárquica do simbolismo, é particularmente significativo, pois representa a “segunda fase da vida do Homem, a da virilidade” e exige do Obreiro um aprofundamento em sua jornada de aperfeiçoamento.

 

A Importância da Elevação e a Evolução da Instrução

Em 1717, quando os primeiros agrupamentos maçônicos modernos surgiram na Inglaterra, o Grau de Companheiro já se apresentava como um estágio importante na hierarquia. Naquela época, a “admissão” ou Elevação era um processo rigoroso, e nem todos os Aprendizes possuíam o mesmo nível intelectual. Possuir “instrução” era um privilégio de poucos, o que, infelizmente, levava muitos a permanecerem na condição de “eternos Aprendizes”.

 

Contudo, com o tempo e o avanço da informação, o Grau de Companheiro passou a ser visto como uma “complementação” na Maçonaria Simbólica, um estágio que o Maçom precisa transpor para atingir sua plenitude ao ser Exaltado a Mestre. A ritualística  Grau de Companheiro para a Elevação é, portanto, de grande importância, pois não se trata de apenas galgar um degrau, mas de uma profunda transformação iniciática.

 

Mesmo antes da criação dos Ritos modernos, a Maçonaria já praticava suas próprias Iniciações e “tempos de estudo”, culminando em um ciclo perfeito. Os três primeiros Graus do simbolismo sempre constituirão o real fundamento de todos os demais graus, garantindo uma interconexão profunda.

 

As Colunas, a Egrégora e a Onipresença do G∴A∴D∴U∴

Quando os Integrantes trabalham em Loja, forma-se a “cobertura esotérica”, tornando o Templo um espaço “a coberto”. A Ritualística do Grau de Companheiro reconhece que a Loja, surgida da união dos Integrantes, atrai a presença do Grande Arquiteto do Universo (G∴A∴D∴U∴), cuja onipresença não se confunde com a mística da sintonia, mas a impulsiona.

 

A Loja, ao receber o “som” das pancadas externas em sua Porta no “chamamento” para a entrada do “préstito” (grupo em marcha), significa que “estará a coberto” ou receberá a cobertura e a presença do G∴A∴D∴U∴. É somente com Sua presença que o Venerável Mestre pode dar início aos trabalhos.

 

É dever do Vigilante verificar se os presentes são Companheiros, solicitando o “sinal” do Grau. Mais do que um mero “sinal postural”, a Ritualística do Grau de Companheiro exige uma “perfeita sintonia” entre Vigilante e Companheiro, pois a presença de um mistificador seria logo desmascarada. Essa sensibilidade do Vigilante é crucial, pois ele é o sucessor do Venerável Mestre e deve evoluir para assumir a liderança da Loja.

 
 

Disciplina, Respeito e Hierarquia

A Ritualística do Grau de Companheiro estabelece a importância do “respeito e da disciplina”. O respeito não é apenas uma formalidade, mas um “dever de cumprir o ensinado”, uma postura que se identifica com veneração aos símbolos. A disciplina, por sua vez, não é submissão, mas “acatamento à hierarquia maçônica” por todos os Integrantes, indistintamente. A “autodisciplina” maçônica refere-se a “aceitar” a filosofia da Ordem.

 

Em Loja, todos devem conservar o devido “respeito e disciplina”, o que implica em “atenção permanente”, pois a Maçonaria é absolutamente dinâmica e jamais estática. A Ritualística do Grau Companheiro não admite distinção entre Dignidades ou Oficiais, pois todos devem manter as mesmas atitudes de respeito e disciplina, independentemente do cargo.

 
 

Abertura dos Trabalhos e a Presença do Companheiro

Uma das diferenças importantes entre os Rituais de Aprendiz e Companheiro, dependendo do Rito, refere-se à “presença” dos Integrantes durante a “Abertura dos Trabalhos”:

 
 
  • Grau 1 (Aprendiz): O Primeiro Vigilante informa que “Todos os presentes são Maçons”, não especificando a presença de Aprendizes, Companheiros e Mestres.
     
  • Grau 2 (Companheiro): A Loja de Companheiro possui um plano onde os Companheiros se acomodam, e o Venerável Mestre não confirma que no Oriente estejam Companheiros, mas apenas Mestres.
     

Uma Loja de Grau de Companheiro é considerada “justa e perfeita” por ser composta por Companheiros e membros de Grau superior, todos sintonizados em um plano idêntico, com a importante presença do G∴A∴D∴U∴. Essa afirmativa deriva do conceito bíblico de que: “Deus é justo, e sua obra é perfeita”.

 

A Ritualística do Grau Companheiro busca o aperfeiçoamento pela Moralidade. Ela não visa transformar homens bons em místicos, mas sim em “homens ainda melhores”, atendendo integralmente ao ser humano em seus conhecimentos e realizações. O trabalho do Companheiro, esssencialmente, é um retorno ao Homem, às Ciências e às Artes, acrescentando novas exigências à jornada do Aprendiz.

 
 
 

Em suma, a Ritualística do Grau de Companheiro é um complexo sistema de ritos, símbolos e comportamentos que visam guiar o Obreiro na sua “segunda idade maçônica”, instigando-o ao estudo, à disciplina, ao respeito e, acima de tudo, à prática constante da virtude e da fraternidade, preparando-o para a plenitude do Mestrado.


Referências Bibliográficas:

D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2019.

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