Introdução
A vida na Maçonaria é uma jornada contínua de aprimoramento. Não se trata de um ponto de chegada, mas de um percurso constante em direção à luz e ao conhecimento. Dentro dessa jornada, o Grau de Companheiro se destaca como um estágio fundamental, e sua essência é vividamente expressa por meio das Cinco Viagens Maçonaria simbólicas. Mais do que meros rituais, essas viagens representam etapas cruciais na evolução do Obreiro, marcadas por aprendizados profundos, a superação de desafios e o domínio de novas ferramentas, tanto materiais quanto intelectuais.
Cada uma dessas viagens ritualísticas é um convite à reflexão e à interiorização, preparando o Companheiro para as responsabilidades que o aguardam em sua busca pela maestria. Vamos explorar cada uma delas e desvendar seus significados:
Primeira Viagem: O Malho e o Cinzel – A Lapidação do Ser
Ao iniciar a primeira das Cinco Viagens Maçonaria, o Candidato a Companheiro ainda carrega os instrumentos que o acompanharam como Aprendiz: o Malho e o Cinzel. Estes não são instrumentos de trabalho comuns; eles simbolizam a vontade (Malho) e o discernimento (Cinzel), que o Aprendiz utilizou para desbastar a “Pedra Bruta” – ou seja, suas imperfeições e vícios. Essa etapa inicial do Companheiro é aprimorar o trabalho já realizado, buscando um polimento mais preciso.
O Malho, com sua força da gravidade e massa metálica, representa o poder de desagregação ou fratura, mas que deve ser aplicado com inteligência e esmero. O Cinzel, por sua vez, com sua têmpera e agudez, corta e formata, não destrói. Juntos, eles simbolizam o uso harmônico da vontade impulsiva e da determinação inteligente, essenciais para a eliminação de asperezas e partes supérfluas do caráter. Esta primeira viagem é confrontada com a Coluna Coríntia, que simboliza a Beleza. Isso nos lembra que, ao polir a Pedra, o Companheiro deve desenvolver a beleza interior e intelectual.
Segunda Viagem: A Régua e o Compasso – A Precisão do Pensar
A Segunda Viagem nos apresenta um novo par de instrumentos: a Régua e o Compasso. Diferentemente do peso e da natureza “grosseira” do Malho e Cinzel, a Régua e o Compasso são utensílios de precisão, destinados a um “importante objetivo intelectual”. A Régua, que traça a linha reta, simboliza a retidão de todos os esforços e atividades, uma direção rígida que deve inspirar propósitos e aspirações. Ela representa o justo, o sábio e o melhor, exigindo que o Maçom jamais se desvie de seus ideais e da fidelidade aos princípios.
O Compasso, que desenha o círculo, define o “alcance do raio” das possibilidades do Companheiro, seu campo de ação. A união da Régua e do Compasso representa a harmonia e o equilíbrio que devem ser alcançados entre as possibilidades infinitas do ser e as condições finitas e limitadas da realidade. É a conciliação do “domínio do concreto com o abstrato” para a manifestação perfeita dos ideais espirituais. Esta viagem é simbolizada pela Coluna Dórica, que representa a Força, a capacidade de vencer obstáculos.
Terceira Viagem: A Régua e a Alavanca – A Força da Vontade Iluminada
Na Terceira Viagem, o Companheiro conserva a Régua, mas o Compasso é substituído pela Alavanca. A Alavanca, um instrumento de função eminentemente ativa, possibilita mover ou erguer objetos pesados com uma força apropriada, desde que haja um ponto de apoio. Simbolicamente, ela representa o meio de regular e dominar a inércia da matéria e a gravidade dos instintos, elevando-os para um lugar de elevada Moral na construção do Edifício Individual.
Quarta Viagem: A Régua e o Esquadro – A Retidão e a Harmonia
A Quarta Viagem mantém a Régua e introduz o Esquadro, o sexto e último instrumento a ser aprendido. O Esquadro, com seu ângulo reto, é indispensável para garantir a forma regular e representa a conduta irrepreensível e a retidão que devem guiar o Maçom. A união da Régua com o Esquadro ensina que “o fim ‘nunca’ justifica os meios”, e que resultados satisfatórios só são obtidos quando todos os envolvidos estão em harmonia e unidos em seus propósitos.
O Esquadro, que pode ser visto como a união do Nível (horizontalidade) e do Prumo (verticalidade), permite edificar tanto o muro físico quanto o edifício interior, de acordo com as leis que regem o convívio social. A Coluna Compósita simboliza essa viagem, reunindo aspectos das três viagens anteriores e integrando a beleza, a força e a sabedoria em uma totalidade harmoniosa.
Quinta Viagem: As Mãos Livres – A Libertação do Espírito
A Quinta e última viagem é a mais intrigante: ela é cumprida sem o auxílio de nenhum instrumento. Isso demonstra que o Candidato, adestrado no uso dos seis instrumentos fundamentais, e que correspondem às seis principais faculdades do Homem, alcançou a obrigatoriedade de buscar sua “sétima faculdade central”, correspondente à Letra G. É um novo e grande campo para seus estudos, uma fase superior de suas habilidades.
As mãos livres simbolizam a completa liberdade que se conquista ao dominar os sentidos e paixões inferiores. Quando a percepção da Luz interior, simbolizada na Estrela Flamejante, se abre, toda regra externa se torna inútil, pois o Companheiro já possui em si o guia para a verdade e a justiça. A Coluna Toscana, a mais simples e harmoniosa, representa a beleza do edifício mental que se busca edificar.
As Cinco Viagens Maçonaria são, portanto, um percurso iniciático que leva o Companheiro a um profundo autoconhecimento, ao domínio de suas paixões e ao desenvolvimento de suas faculdades intelectuais e espirituais, preparando-o para o ápice de sua jornada maçônica: o Mestrado.
Referências Bibliográficas:
D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2019.

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