O Avental do Companheiro: Pureza, Trabalho e Consciência Maçônica

Introdução

Dentro do vasto e intrincado universo simbólico da Maçonaria, poucos elementos possuem a profundidade e a relevância do Avental Maçônico. Mais do que uma simples vestimenta, o Avental Maçonaria é um dos mais importantes símbolos da Ordem, acompanhando e revestindo o Maçom desde o seu Primeiro Grau Simbólico até os graus mais elevados do Filosofismo. Para o Companheiro, em particular, o uso e a posição do Avental carregam significados transformadores, refletindo sua evolução e as novas responsabilidades assumidas.

Do Ofício Operativo à Simbologia Especulativa

Historicamente, o avental era uma peça utilitária, projetada para proteger o trabalhador e suas roupas das impurezas do ofício. Essa função prática, contudo, é transmutada na Maçonaria Especulativa em um poderoso emblema de conduta. O Avental Maçonaria deve ser apresentado sempre “imaculado”, demonstrando um comportamento digno e sem manchas, um paradoxo que nos leva a refletir sobre a pureza de intenção e a integridade moral.

Enquanto os trabalhadores profanos utilizavam o avental para proteção física, o Maçom o emprega para proteger a sua “nudez espiritual e simbólica”, conscientizando-se de que é um obreiro por excelência.

A Forma e Suas Múltiplas Faces Simbólicas

O Avental Maçonaria de Aprendiz é composto por dois triângulos unidos que formam um quadrado na parte inferior, e um triângulo adicional na parte superior, a “abeta”. Essa composição é profundamente simbólica, baseada na figura geométrica mais perfeita: o triângulo, que serve de base para todas as outras figuras. O Aprendiz usa sua abeta erguida, com a ponta atingindo o “plexo solar”, protegendo-o e simbolizando sua inocência maçônica e a necessidade de proteção.

Ao ser elevado ao Grau de Companheiro, a posição do Avental Maçonaria se modifica: a abeta é “abaixada”. Essa mudança não é trivial. Ela indica que o Companheiro já cumpriu sua tarefa inicial de desbaste das imperfeições e que atingiu uma “certa idade maçônica”. Ele não precisa mais da proteção da “nudez” inicial, pois já corrigiu seus defeitos e compreendeu os ensinamentos do Criador. A abeta abaixada simboliza a maturidade, a capacidade de “produzir, criar e procriar” em um sentido simbólico, ou seja, de gerar ideias e obras.

Os quatro lados do quadrado do Avental Maçonaria de Companheiro simbolizam os “quatro elementos da Natureza” (terra, água, ar e fogo), representando a materialidade que o Obreiro deve temperar com sabedoria. Além disso, remetem aos “quatro pontos cardeais”, indicando a vasta rota a percorrer em sua peregrinação de estudos e sacrifício.

O Círculo, a Pureza e a Missão Universal

O “cordão” que fixa o Avental Maçonaria na cintura, ao formar a figura geométrica do círculo, é interpretado por alguns autores como simbolizando a “circuncisão”, e mais amplamente, a missão do Companheiro de percorrer o Mundo para instruir, dirigir e eliminar o fanatismo. A circunferência, com sua trajetória sem fim, simboliza que a missão do Companheiro jamais deve estar contida nos limites da Loja.

A cor branca do Avental Maçonaria no Grau de Companheiro, que se mantém desde o Aprendiz, indica não apenas pureza, mas também a “polarização das demais cores”. No dualismo maçônico, o branco representa a Luz, enquanto o preto (presente no forro de alguns Aventais em Ritos específicos) representa a negação da Luz, ambos mostrando a complexidade da vida e dos ensinamentos. 

Identificação e Hierarquia: O Avental como Distintivo

A presença do Avental Maçonaria em Loja é uma exigência ritualística fundamental. Ele não apenas identifica o Grau de cada Maçom, mas também reforça a ordem hierárquica e o equilíbrio necessários em todas as posturas e rituais. A uniformização dos símbolos entre as Obediências Maçônicas garante que o Avental Maçonaria de cada Grau seja confeccionado de forma idêntica, fortalecendo a unidade da Ordem.

Em suma, o Avental Maçonaria do Companheiro é um símbolo multifacetado que encapsula a pureza de intenção, o trabalho incessante de lapidação do ser, a maturidade adquirida e a responsabilidade de ir além dos limites da Loja, irradiando a luz maçônica para a Humanidade.


Referências Bibliográficas:

D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras, 2019.

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